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Alegrete, Centro do Mundo,

25 de agosto de 2011

O causo do padre Rômulo


Não é que havia um padre lá no Alegrete chamado Rômulo, cheio de virtudes, bom sujeito mas tinha uma coisa, não gostava de castelhanos. Não gostava não, tinha pavor! Para ele, filho de índio rústico com tradições guerreiras contra os países do Prata, tudo que era de ruim vinha lá do outro lado da fronteira.
Tanto andou, criou e mexeu, que um dia o Arcebispo perdeu a paciência e mandou chamar o homem:
- Padre Rômulo, agora chega! O senhor tem que acabar com essa mania de botar defeito em castelhano.
- Senhor Arcebispo, eu não preciso botar defeito nos castelhanos, eles já tem todos
- Não vou repreendê-lo, padre, mas o senhor vai ser o vigário de Uruguaiana, para aprender que castelhano também é filho de Deus e em consequência, seu irmão.
- Filho de Deus…. só que seja filho da…
- Padre Rômulo!!!!!
E assim, o padre Rômulo foi servir em Uruguaiana, que à época vivia cheia de castelhanos, tudo fazendo compras. No primeiro sermão que proferiu, com a igreja cheia de argentinos e uruguaios, o padre já começou com chute de matar pato:
- Caríssimos irmãos. O sermão de hoje é sobre uma correntina safada chamada Maria Madalena, filha de soldado, que andou passando na cara tudo que era centurião romano.
No outro domingo iniciou o sermão:
- Conta a Bíblia que um castelhano chamado Caim certa feita, por qualquer bobagem, deu uma pedrada na cabeça do pobrezinho do seu irmão Abel….
E tome paulada em cima. Para o padre, os filisteus eram todos correntinos da pior espécie e os fariseus hipócritas era os castelhanos da época. Cristo, certa feita, passara o laço nos castelhanos lasqueados que andaram bolichando no templo.
Até que um dia o Delegado mandou chamar o padre Rômulo à delegacia de polícia:
- Olha, Padre Rômulo, não aguento mais tanta queixa sobre o senhor. Os argentinos e uruguaios querem que eu lhe prenda. Os comerciantes, que estão perdendo os clientes, já me procuraram.
- Me procuraram também, mas eu mandei que eles fossem se queixar para o Bispo.
- Pois é, mas eu sou filho de um argentino e de uma brasileira e também perdi a paciência com o senhor.
- Delegado, o senhor manda na delegacia e eu mando na minha Igreja.
- Pois bem, se no domingo que vem, o senhor disser que fulano ou sicrano era correntino ou castelhano, o senhor sai preso do púlpito. E vou estar no primeiro banco.
Padre Rômulo deu as costas furioso e foi embora, batendo as portas. No domingo, pela manhã, dito e feito: lá estava o Delegado, sério e brabo, com o volume do revólver e das algemas aparecendo por baixo do casaco. Sentou na primeira fila, olhou o padre e deu umas palmadinhas significativas na cintura.
O Padre entendeu direitinho a ameaça, pigarreou e atacou o sermão, em pleno Domingo de Páscoa:
- Caríssimos Irmãos. Sentindo chegar a hora, Cristo reuniu os Apóstolos para uma última ceia. Lá pelas tantas disse: um de vocês vai me trair.
O Delegado deu um pulo no banco. Abriu o casaco e olhou feio para o Padre, que viu bem tudo mas continuou fingindo que não tinha visto nada.
- Pedro então disse: serei eu, Senhor ? Cristo balançou a cabeça. Thiago então perguntou: serei eu, Senhor ? E Cristo balançou a cabeça outra vez.   E Judas então perguntou: Señor, ¿acaso seré yo?

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